sexta-feira, 12 de março de 2010

Filme: Antichrist





Filme mais recente do diretor Lars Von Trier e estrelado por Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg, Antichrist (ou Anticristo) causou bastante polêmica em seu lançamento – e continua causando até hoje, quase um ano após sua estreia. Descrito como um dos filmes mais fortes de todos os tempos, recebeu muitos ataques e elogios de críticos e cinéfilos – provando ser uma obra divisora de opiniões, do tipo “ame ou odeie”. A minha opinião sobre Antichrist foi um tanto estranha, pois não consegui entender o que realmente achei do filme na primeira vez que o vi, embora sempre tenha achado o conceito genial. Assistindo-o mais uma vez, pude tirar uma conclusão mais concreta do filme.


O filme já começa de forma chocante; um casal (interpretado por Willem e Charlotte, os quais chamarei de Ele e Ela, já que os personagens não possuem nome) fazendo sexo, com cenas bastantes explícitas do ato, enquanto um bebê, filho do casal, acidentalmente cai de uma janela e morre, com um lindo sorriso durante a queda. Esse evento muda pra sempre a vida do casal, pois Ela tem sua sanidade cada vez mais corrompida, enquanto Ele, um terapeuta, tenta lidar com a dor e ao mesmo tempo ajudar sua mulher a se recuperar da tragédia. Ela costuma ter várias visões de uma casa na floresta, que é para onde decidem ir, como forma de tentar ajudá-la a superar a dor e seus medos. É então que várias coisas inexplicáveis começam a acontecer…




 A sinopse é curta, pois dizer mais que isso sobre o filme seria um enorme spoiler. Mas aviso antecipadamente que os personagens sofrem, e muito. As atuações de Willem e Charlotte são magníficas, dignas de prêmios; é impossível não se sensibilizar, chocar e até mesmo sentir na pele a agonia que Ele e Ela sentem durante o filme. A direção de arte é impecável, com a cena inicial sendo uma das mais esteticamente belas (e ao mesmo tempo chocantes) que já vi em um filme. E uma das mais destoantes também, pois a lindíssima Lascia ch’io pianga ao fundo não combina exatamente com sexo explícito e a morte de um bebê. E essa está longe de ser a cena mais chocante do filme. Além disso, algumas cenas costumam ser bastante longas, normalmente gravadas em um único take - isso explica porque Lars Von Trier o dedicou a Andrei Tarkovsky. Curiosamente, esse é um dos pouquíssimos filmes de Von Trier a utilizar efeitos em computação gráfica.


Von Trier dirigiu o filme durante uma péssima fase de sua vida. Ele estava sofrendo de depressão e havia acabado de se divorciar de sua mulher. Ambos os fatores se mostram bastante presentes no filme, metaforicamente ou não. Por falar nisso, muitos críticos julgaram o filme como “misógino” e “sexista”. Particularmente não concordo nem um pouco com essas afirmações, já que o filme retrata justamente uma crítica contra a sociedade machista em que vivemos. Não darei detalhes para não estragar nenhuma surpresa quanto ao filme, mas o fato das mulheres terem sido torturadas e assassinadas inocentemente durante a idade média só por serem mulheres é um dos temas retratados em Antichrist. E como é…



Apesar do tema do filme parecer um terror com temas religiosos, ele é, na verdade, uma deconstrução do gênero. Os temas religiosos estão presentes, mas não da forma que o título e o pôster do filme sugerem. Além disso, Antichrist usa e abusa de simbolismo, cristão e de outras religiões, durante toda a duração do filme, sendo praticamente impossível perceber todos os elementos presentes. É um filme bastante metafórico, e é preciso prestar bastante atenção nesses detalhes para entender as motivações dos personagens – e ainda assim é praticamente impossível entender tudo.



Antichrist é um filme bastante experimental e livremente transgressivo. É o tipo de filme que, após uma sessão, você não sabe exatamente se gostou ou não, pois ainda está chocado demais para pensar em algo. Com o tempo, você percebe o quão genial é o conceito do filme, e decide assisti-lo novamente, para formar uma opinião melhor. É quando você descobre que não há como formar uma opinião totalmente conclusiva sobre Antichrist - só nos resta teorizar e refletir sobre todos os fatos do filme, admirar o quão brilhantes são as atuações de Willem e Charlotte, e principalmente, desejar nunca mais rever algumas determinadas cenas na vida. Muitos odiaram o filme, assim como muitos amaram. Para ser sincero, até hoje tenho dúvidas se realmente gosto de Antichrist… mas sei que não seria capaz de odiar tal obra-prima, que cumpre seu papel de forma tão única e marcante.


Creditos:http://moonflux.com

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